quarta-feira, 4 de maio de 2011

No culto, uma visita ilustre

Por Jefferson Nóbrega

Minha proximidade com o Pastor José, levou-me a namorar sua filha. A jovem chamava-se Linda e fazia jus ao nome. Era uma morena de beleza rara, herdou os traços orientais de sua mãe, com um cabelo liso até a cintura e um sorriso cativante, ela me arrebatou. Confesso-vos um erro, depois de sua insistência, cedi e fui com ela ao culto comandado pelo pai. Agora sei como foi difícil para Adão resistir ao pedido de sua bela amada. Realmente as mulheres possuem um grandioso poder de persuasão.

Deixei-me levar pelo espírito relativista, vesti meu terno, e fui ao templo da Igreja do Povo Eleito.

O velho cinema, que agora é palco de um novo espetáculo, estava lotado, mas namorar a filha do chefe tem lá suas vantagens, tínhamos assim um lugar reservado no primeiro banco.

O culto começou tranquilo, foi lida uma passagem bíblica e o pastor José, começou a dar sua interpretação. Pensei comigo: “Errado devia ser São Pedro que disse que nenhuma escritura é de interpretação pessoal”. Mas, são meros detalhes que insisto em reparar. E a celebração seguiu em paz. Em certo momento ficou até monótona, achei estranho, nada de berros...

De repente, o bicho pegou!

Um senhor que estava sentado a nossa direita, começou a se contorcer, falar grosso e levantou completamente perturbado. Uma senhora atrás disse:
Vala-me meu padim padi ciço! Resquício de sua religiosidade natural.

O Pastor José olhou para o homem que agora gritava, e soltou um “viche maria”, nessa hora tive que sorrir. Pensei: “Até aqui a santíssima virgem deu o ar da graça”.

Mas, o negócio foi ficando cada vez pior, o homem estava completamente fora de si.

O Pastor gritou: É o Exu Caveira! Perguntei: Amor eles se conhecem? Ela comentou baixo: Acho que é mesmo o caveirinha... Você também conhece? Que intimidade é essa? Caveirinha...

Vá de retro em nome de Jesus! Gritou o Pastor. Nesse momento o possuído se acalmou. Mas, quem pensou que o combate ia ser mole enganou-se. Uma mulher que estava a nossa esquerda também surtou.

­Viche minha virgem santa! Dessa vez foi eu que gritei. Que se dane se é um culto de crente, fiz logo o sinal da cruz para garantir.

Agora o pastor falou: Se afastem que é a Pombagira!

Que diabos seu pai conhece todo mundo no inferno? Perguntei. Ela me beliscou e disse para não brincar com coisa séria!

Fizeram uma corrente de oração, centenas de crentes contra os dois possuídos. Novamente pensei: “Com Jesus e os apóstolos era mais fácil, era só mandar sair e o coisa ruim ia embora”. Os dois demônios não resistiram e fugiram. Acho que não aguentaram a baderna.

Saí de lá completamente transtornado, e Linda com raiva, pois disse que fiquei o tempo todo zombando de sua fé. Nossa relação já não estava lá essas coisas, senti que havia piorado ainda mais.

Mesmo assim, insisti e perguntei: Amor, isso acontece sempre?
Sim, acontece com certa frequencia.
Mesmo depois de expulsos eles voltam?
Voltam! Respondeu de forma ríspida.

Ah, então aquele lugar deve ter uma linha direta com o inferno, nunca vi sair tanto capeta em um lugar só!

Olha se você for ficar brincando com minha igreja é melhor nós terminarmos tudo...

Calma Linda! Não está mais aqui quem falou...

Você vai voltar no culto amanhã? Perguntou ela já mais calma.

Amanhã? Sinto te dizer, mas foi só uma visita. Se Deus quiser eu não volto mais lá.

­Mas, eu pensei que você aceitaria Jesus?

Meu bem, Jesus já aceitei a muito tempo, sou da única Igreja fundada por ele, o que não aceito é abandonar seu corpo místico!

Eu gosto muito de você, disse ela. Mas, não posso ficar junto com quem não é da mesma religião e ainda por cima critica ela.

Também gosto muito de você, mas minha fé não troco por nada nesse mundo.

Então, acho que é melhor terminarmos por aqui.

Também acho o melhor.

Fica com sua Maria! Disse ela com ironia.

Pode ter certeza que ficarei! Ah, manda uma alô pro Caveirinha quando ele voltar amanhã...

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