quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A história anti-católica

A História Anti-Católica

G. K. Chesterton

As teses seguintes foram propostas para discussão por Mr. Chesterton no recente Congresso Católico em Birmingham, Inglaterra. Cada tese é acompanhada de um exemplo ilustrativo:

(1) A história anti-católica é falsa não apenas à luz de nossa Fé, mas à luz da ciência histórica à qual apelou aquela história.

Exemplo: Nós não pretendemos provar que os Evangelhos são inspirados, mas a tentativa de provar que eles são falsificações tardias ou ficções foi abandonada.

(2) A história anti-católica é mais falsa e perigosa quando não é declaradamente anti-católica.

Exemplo: Panfletos protestantes são cada vez menos lidos, mas jornais e obras populares de referência são provavelmente mais lidos; e eles perpetuam a má história de cinquenta anos atrás.

(3) A história anti-católica falha porque a história é uma estória; e neste ponto ela nunca pode fornecer o começo de uma estória.

Exemplo: Ela tem de começar com a Inquisição Espanhola em sua existência e abusos; ela não pode contar como ela apareceu por lá sem contar uma estória heróica do esforço Europeu contra o Islã ou contra o pessimismo oriental. Quase todas as nossas tradições, boas ou más, nasceram católicas, e a verdade sobre seu nascimento é ocultada.

(4) A história anti-católica geralmente é superficial; ela depende de certos lemas, casos e nomes específicos, enquanto a história católica pode tratar toda a textura da verdade.

Exemplo: Qualquer um que tenha escutado a palavra “Galileu” pode pronunciar “Galileu”, ainda que o faça incorretamente. Mas nenhuma pessoa que tenha lido qualquer massa ordinária e mediana de detalhes sobre a Idade Média ou sobre a Renascença pode continuar a crer que a Igreja impedia a ciência.

(5) A história anti-católica é também largamente auxiliada pela lenda, que pode ser natural e até mesmo saudável, mas não é científica.

Exemplo: É uma lenda falar da Era Elizabetana como o único triunfo da Inglaterra emancipada, da força de um romance real de navegação ainda mais característico da Espanha Católica, e de um poeta supremo que quase com certeza foi um católico.

(6) A história anti-católica professa constantemente um velho erro ao lançar um novo.

Exemplo: 50 anos atrás, um homem como Mr. George Moore negaria que houvesse qualquer indício de um Jesus histórico, e o chamaria de mito ou de Deus-Sol. No momento em que um cético pensa numa outra maneira de se esquivar da Ressurreição — uma maneira que lhe permite tratar Jesus como um personagem histórico —, ele passa a tratá-lo instantaneamente como um personagem histórico.

(7) A história anti-católica é limitada e pouco criativa, porque ela sempre concebe todos os homens como se estivessem aguardando com interesse o que aconteceu, em lugar das centenas de coisas que podem ter acontecido ou das que muitos deles desejavam que acontecesse.

Exemplo: Qualquer um que tenha discordado de qualquer Papa sobre qualquer coisa (São Francisco, por exemplo) é transformado numa estrela matutina da Reforma; embora em verdade os Fraticelli, que foram além de São Francisco, estavam indo obviamente cada vez mais longe da Reforma.

(8) A história anti-católica está cheia de observações muito fortuitas, tão falsas que só podem ser contestadas por meio de longas e complicadas afirmações.

Exemplo: A “Enciclopédia” Chambers fala do “Rosário, aquela devoção algo mecânica, que foi usada por São Domingos entre Albigenses.” Um católico pode escrever páginas sobre isso; mas ele teria ao menos de dizer que (a) O Rosário, como a Oração do Senhor, só será mecânico na medida em que você torná-lo mecânico; (b) se usado com intensidade, é mais livre que a Oração do Senhor, constituindo-se de meditações individuais sobre infinitos mistérios; (c) ninguém seria tão tolo a ponto de usar uma coisa meramente mecânica para converter os Albigenses.

(9) A história anti-católica, na medida em que é protestante, foi uma má compreensão provinciana da alta cultura e até mesmo da liberdade intelectual do catolicismo.

Exemplo: Os protestantes execraram os jesuítas por — duzentos anos atrás — terem tentado fazer de maneira ordenada o que agora estão fazendo de forma anárquica as novelas e peças-problema protestantes; para mostrar alguma compaixão em casos difíceis.

(10) A história anti-católica, na medida em que é ateia ou agnóstica, tem sido uma série de amplas e muito deprimentes teorias científicas ou generalizações, cada uma delas aplicada rigorosamente a tudo, e cada uma abruptamente abandonada em favor da próxima.

Exemplo: Entre essas estavam as teorias comerciais e utilitárias de Bentham ou de Buckle, teorias que atribuíam tudo à raça, especialmente ao triunfo de uma raça Teutônica; a teoria econômica de Marx e de outros materialistas. Há provavelmente outra entrando em moda agora.

(11) A história anti-católica, depois de produzir e soltar milhares de acusações, depois de se contradizer milhares de vezes no tópico relativo à Igreja Católica, até o momento jamais adivinhou o fato mais simples sobre a Igreja: que ela defende toda a verdade contra todo tipo de erro.

Exemplo: A Igreja é sempre tratada como sendo necessariamente o grupo ascético ou ritualístico em qualquer disputa, embora ela tenha condenado incontáveis formas de ritual e excessos de ascetismo.

(12) A história anti-católica é obscurantista; ela tem medo da verdade.

Exemplo: Nós podemos verificar essa afirmação facilmente desafiando qualquer jornal para uma livre discussão em torno de qualquer uma destas teses.

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